Tanto encheu que rebentou
Numa corrida desenfreada aos golos, o FC Porto de Vítor Pereira esbarrou violentamente na derrota. Para os dragões, esta é a parte má da notícia. Mas é preciso olhar para lá do resultado para encontrar uma equipa que tem crescido na sua retocada identidade e que asfixiou o Lyon durante largos períodos do encontro, impondo-se no jogo e ditando leis que não soube materializar em golos. Com um mês de trabalho, o FC Porto ousou testar os seus limites; encontrou-os nos lapsos de concentração e na sofreguidão com que se lançou à presa, saltando por cima dos seus princípios e encaixando um desaire que não honra o que se viu em campo.
O Lyon foi encostado às cordas por uma máquina de pressão que aniquilou a sua saída de bola. Nem o golo madrugador de Lisandro, a castigar alguma apatia portista perante a circulação do rival, empurrou os franceses para o domínio das operações. Com Moutinho omnipresente e a defesa a subir com mestria para sufocar as primeiras fases de construção do adversário, os dragões tomaram as rédeas do jogo, geriram o seu ritmo e somaram oportunidades de golo. Primeiro através de rasgos individuais que tiveram sempre Hulk como referência, depois com dinâmicas colectivas que conciliaram noções de velocidade, largura ou profundidade.
O FC Porto de Vítor Pereira é, recorrendo à construção lexical de Villas-Boas, ultra-agressivo sem bola. O que, necessariamente, é ultrafatigante. Ontem encheu até rebentar, entrando numa espiral de tal forma frenética que acabou por partir o jogo em transições que estão longe de ser aquilo que o técnico pretende. Dir-se-á que a equipa estava já desconfigurada quando Michel Bastos chegou ao golo, mas o descontrolo na gestão do esforço foi mais uma lacuna colectiva do que uma questão de nomes.
O bloco de notas do treinador sai de Genebra carregadinho. Foi evidente onde encalhou o FC Porto, mas também reconfortante o comportamento de um onze que serve de molde para a Supertaça. Para os supersticiosos, fechou-se mais uma pré-temporada perdendo com uma equipa francesa (Villas-Boas caiu perante o Bordéus antes de ganhar ao Benfica); para os lúcidos, este dragão é uma promessa de futebol ofensivo, projectado para uma posse agressiva e para uma reacção tremenda à sua perda. O FC Porto fechou a fase experimental da época com uma vitória moral. Só tem de perceber que, a partir de agora, as derrotas vão mesmo doer...