Fora-de-jogo no golo de Maicon não foi assinalado porque Tiago Trigo, o assistente que estava mais longe, não deu o sinal da partida da bola
Jorge Jesus está na sala de imprensa da Luz. Perdeu com o FC Porto, perdeu a liderança da Liga e segundos depois perde também a cabeça. O tom de voz sobe à medida que avança na análise do clássico. Quando chega ao golo de Maicon, o treinador atinge o clímax do protesto. “Não entendo como é que o árbitro assistente, num lance de bola parada, não vê. Ele viu e sabe, na sua consciência, que há fora-de-jogo. Não marcou porque não quis! Por-que-não-quis!”
Jesus está a falar de Ricardo Santos, auxiliar de Pedro Proença responsável por acompanhar a defesa do Benfica no livre de James Rodríguez. Quando o colombiano cruza para a área, Otamendi e Maicon estão um passo à frente da linha de fora-de-jogo. Para Jesus, como para qualquer pessoa que viu as imagens, é evidente que os jogadores estão em posição irregular. O que falhou afinal?
Cada trio se coordena em campo à sua maneira para acompanhar as jogadas da melhor forma. No caso de uma bola parada como esta, a Ricardo Santos cabia acima de tudo a responsabilidade de se centrar na linha defensiva do Benfica. Pedro Proença estava de olho nas movimentações à entrada da área – para detectar alguma falta, por exemplo. Tiago Trigo, o homem que estava na outra ponta do relvado, mais longe da bola, tinha uma função essencial: avisar os colegas através do sistema de comunicação no momento em que a bola partisse.
Na verdade, Jorge Jesus apontou o dedo ao auxiliar errado. O i sabe, através de fonte próxima da equipa de arbitragem, que o erro no lance do terceiro golo dos dragões se deveu sobretudo a uma falha de Tiago Trigo. O outro auxiliar de Proença não deu o sinal – a palavra “bola” é o mais utilizado – para que Ricardo Santos pudesse ter a perfeita noção do momento em que James bateu o livre. Quando se apercebeu de que a bola já ia no ar, Santos terá ficado atrapalhado pela ausência de um alerta e assim perdeu a certeza quanto ao posicionamento de Maicon, que segundos depois cabeceou para o golo da vitória – o momento decisivo do clássico.
Em Junho, Pedro Proença vai estar na Polónia e na Ucrânia para apitar jogos do Euro-2012. Com ele irão também dois auxiliares. Além de Tiago Trigo e Ricardo Santos, o árbitro de Lisboa costuma ser acompanhado por um terceiro assistente: André Campos. E é deste grupo restrito que sairá a dupla para a competição de selecções da UEFA. A decisão está nas mãos de Proença.
Um erro pode ser suficiente para pôr em causa toda a reputação de um árbitro, seja ele principal seja auxiliar. Os adeptos insultam, os treinadores criticam e o caldo entorna-se. Mas também há casos em que a confusão nasce mesmo entre os árbitros – como no dérbi basco entre Athletic Bilbao e Real Sociedad, no último domingo, quando o auxiliar de Mateu Lahoz não viu uma bola que passou a linha de baliza do Athletic. O árbitro percebeu a falha e arrasou-o pelo auricular: “Todos os domingos fazes isto mal.”
Fonte: Rui Catalão